sexta-feira, 22 de julho de 2011

Sobre botões e minhocas



Eu escrevo desde os nove anos, ou quase isso.  Me lembro que tinha uma bicicleta com cestinha, uma Ceci. Quando não estava com o Kiko dentro dela, um gatinho preto lindo de olhos verdes, estava com um caderninho e uma caneta.
Nele eu anotava as idéias que surgiam na cabeça enquanto pedalava na viela de asfalto rústico atrás da minha casa.
Era um percurso de poucos metros, mas que rendiam rimas enquanto o vento levantava o meu cabelo.
É uma pena não ter guardado aquele caderno. É uma pena não ter acreditado que eu estava produzindo algo muito útil para o meu futuro.
Recordo apenas de um pequeno trecho de um dos meus poeminhas: “De grão em grão a galinha enche o papo. De vão em vão o pé entra no sapato...” O resto se perdeu. Se perdeu no tempo, na memória.
Hoje tenho consciência de que a infância é o melhor espelho do futuro. Se não conseguimos refletir hoje as coisas que fazíamos com tanto prazer na infância, nos tornamos adultos tristes e frustrados.
Quando entramos na vida adulta, somos obrigados a escolher uma profissão e pensar nas questões práticas da vida. Ganhar dinheiro, pagar contas. E com isso deixamos os sonhos pra trás, por medo ou por vergonha.
Outra lembrança que me traz muito prazer, é de quando passava minhas férias no sítio da minha tia. Brincava com tudo o que a natureza podia oferecer. Buscava ovos no galinheiro ao primeiro aviso da galinha, fazia tijolos de barro, buscava leite no sítio vizinho, tocava gado e, o mais divertido, dava banho nas minhocas guardadas na lata de iscas do meu tio.
Deve ser por isso que durante muito tempo pensei em estudar Biologia. Mas a vida me levou por outro caminho. Ou eu me deixei levar por ele.
Agora busco essas experiências em minha memória para talvez construir um futuro mais interessante.
São pequenos retalhos coloridos que, talvez um dia, reunidos da maneira certa, se transformem em uma linda colcha. Ou são botões de roupa, de várias cores e tamanhos, encontrados na caixa de costura da minha mãe, guardados dentro de um pote de vidro transparente. Mas esta, já é outra história pueril.

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