sábado, 29 de dezembro de 2012

Mais um ano ou menos um ano?





Este foi um ano difícil, porém renovador. Encarar minhas limitações de maneira franca me proporcionou um processo de autoconhecimento. Hoje acredito que é nos momentos de maior fragilidade que somos verdadeiros. Geralmente, quando estamos “bem”, apenas representamos uma realidade desejada, fingindo uma falsa tranquilidade e equilíbrio. Se conhecer é doloroso e se aceitar é uma bênção. 

Ser feliz é fazer o que nos faz bem e não o que fazemos bem. Eu amo escrever e não me importo se só os amigos e familiares vão ler o que eu escrevi. Não pretendo me tornar uma revelação literária e nem me importo se disserem que o que eu escrevo é medíocre ou mal escrito.

Também gosto muito de fazer trabalhos manuais como colagem, pintura, reciclagem. Sempre gostei de inventar coisas e transformar materiais. Não pretendo ver algo que fiz exposto em uma galeria de artes e nem me importo se alguém disser que o que eu faço é infantil ou primitivo.

O contato com a natureza é algo renovador para mim. Adoro fotografar e aprender mais sobre aves e outros bichos. Não sou bióloga, mas conhecer melhor a vida selvagem me ajuda a compreender a vida “humana”.

 Durante muito tempo tive vergonha de quem eu era. Sempre me achei muito diferente das pessoas comuns. Isso sempre foi angustiante. Tentar se encaixar em um mundo que não lhe pertence é sofrível e infrutífero. Hoje me conheço melhor e acima de tudo me aceito como sou. Sou escritora, sou artesã, sou amante da natureza e acima de tudo sou mais eu hoje do sempre fui em toda minha vida. A maturidade com certeza me ajudou a compreender isso, mas a eterna rebeldia da juventude é o que me mantêm íntegra e fiel a mim mesma.

Ser feliz causa medo, pois só quando estamos realizados é que temos algo a perder. Pensar que um dia teremos que deixar a vida faz a infelicidade ser reconfortante para muitas pessoas que preferem viver uma vida comum e sem nenhum sabor.

2013 se aproxima e espero que seja repleto de realizações pessoais e momentos prazerosos. E com muita saúde, é claro.


Um ótimo ano novo para todos!!!!

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Em 2013...........



Desejo à todos vcs neste próximo ano apenas uma coisa: sejam verdadeiros! Ser verdadeiro poupa nossa saúde, impede que gastemos dinheiro com coisas inúteis, afasta pessoas desagradáveis e atraí pessoas que gostam de nós como realmente somos. Em resumo, ser verdadeiro traz saúde, dinheiro, paz e amor. Quer mais do que isso?

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Histórias do passado para escrever no futuro

     
                                     (Por Cátia Rodrigues)
 Suco de Laranja, pardais gorjeiam no beiral. Eu gosto do seu canto, humilde e simples, duas notas, é só um piar; mas é alegre. Mas agora, que é o tempo do Sabiá da cor do meu suco cantar, há uma nobreza maior no ar, várias notas que alcançam o coração trazendo mais que alegria, enchendo de felicidade.

      Enquanto isso, reminiscências. Lembranças de um tempo vivido em outras cordas, ou em outras vidas.

      Uma virgem de cabelos lisos e negros, corpo miúdo e pele vermelha urucum, num período pré colombiano da América Central, sacrificada aos deuses. Muitas foram, mas desta eu me lembro em especial, como se eu mesma estivesse ali. Pânico, senso de injustiça, fé. Sangue e Morte. E um sentido ainda não compreendido. Nem pela índia, nem agora, por mim.

        De Provença, trago o cheiro da lavanda nas narinas. Nunca mais saíram daqui, de dentro de mim. Em um campo de flores, destas que em qualquer lugar nascem apenas com a vontade de Deus, eu brincava, ainda moleca com uns 15 anos. Cabelos longos, volumosos, castanhos claros e ondulados. Vestido leve, nada formal para a época. Quando terá sido? Flores brancas, amarelas, umas poucas azuis, e muito mato verde, na altura das canelas. É bom correr entre as flores, perto da casa humilde, de pedras e dois andares, um dia mais estilosa. É bom deitar embaixo da árvore e contemplar a montanha azul acinzentada, as nuvens brancas e o céu anil. Ali era familiar. Até hoje, a Primavera é minha estação preferida do ano. Sei de um homem bom, neste mesmo cenário, que em nome da honra, matou um adolescente que engraçava-se com sua tão mais jovem esposa, adquirida por negócios de família. Atônita visão da espada transpassando o corpo do amigo, nunca mais conseguiu amar o marido. Viveu dedicadamente até o fim dos dias do homem, e mesmo com toda a sua bondade e generosidade, ela não o perdoou. Foi preciso nascer de novo para encontrarem amor entre eles.

      Do deserto, só me lembro de Marrocos, e um pouco da Turquia. Jamais em outros lugares. Mas foi há centenas de anos que nos vimos no deserto, e mesmo assim trago areia nos olhos nesta nova vida que escolhi, longe dos extremos de calor e frio. E a cor da pele, e as olheiras, e o nariz adunco, só podem ser de lá que eu trouxe. Ainda sinto o medo do amor arrebatador que faz a pessoa escrava da outra. Aprendizado de que amor é liberdade.

    Recordo-me de uma viúva com quatro filhos, carioca cabocla como eu, filha de índio e de português, magra, não por gosto, mas por necessidade. Gostava do marido, que morreu pela situação de pouca higiene que a cidade enfrentava à época. Tanto crescimento, tanto progresso, e o marido morto por falta de saneamento básico. Tinha que alimentar os filhos. Conseguiu emprego em casa de família, vida simples que logo findou.

    E houve Paris. Inesquecível, sempre. Mas aqui, por outros motivos além de seus encantos. Foi à época da construção da Torre. Eram tantas novidades! Tudo começava a existir realmente! Havia algo recente que, especialmente, a encantava: a fotografia e o fonógrafo. Eram novas teorias, interessantes, discutíveis, libertárias dos dogmas repressivos da religião. Revoluções, arte, a música, alguns conflitos políticos: é adorável o momento de mudança por elevação do espírito e da inteligência humana. Era a Capital do mundo, tudo era arte e despreocupação com o que fosse material, tudo era romantismo, livre de ideais burgueses e da loucura da racionalidade absoluta. Mas um amor boêmio e ciumento, à luz do álcool e do ópio, findou com duas vidas por desconfiança e insegurança: ele a matou, com a criança no ventre. E, depois, morreu aos poucos, por dentro antes do corpo, porque perdeu seu grande amor, e sua filha, Sophia.

       São lembranças saudosas de tudo que eu não vi, daquilo que sei que vivi, intimo dentro de mim. Daquilo que pretendo viver, em minhas letras, em meus romances, que cada vez mais crescem dentro de mim.

     Por ora, apenas o suco de laranja restou num copo abaloado com desenhos que remetem ao Jazz. Os pássaros recolheram-se com o chegar da noite. Apenas a coruja ficou, minha velha amiga, que pousa no muro ali fora e me observa a escrever alguma bobagem e outra, na esperança que possam ser verdadeiros sussuros da alma.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Urbanos





Avenida Edgar Faccó.

8 da manhã. Ela revolve as penas brancas com o bico, enquanto se aquece ao sol de inverno. Sua tranquilidade matinal, contrasta com o trânsito contínuo da avenida. Sua casa são as vigas de concreto, no braço fétido do rio Tietê. 

 Não é apenas uma, mas duas. Talvez um casal. 

Sua natureza foi deixada de lado. Acostumou-se a enfiar os pés no lodo e sujar as penas no esgoto. Parece tão natural viver assim, mas não é.

Nós também não fomos criados para viver no esgoto e nos acostumar com o ar pesado, cheio de enxofre e chumbo como se fosse natural.

Vivendo em grandes cidades, com o stress da violência, da poluição e da ignorância, acabamos nos tornando garças também. Garças do esgoto, com as penas encharcadas e sujas, incapazes de voar. De tanto enfiar os pés no lodo, esquecemos para que servem as asas. O bico revolve as penas, mas não nos livra da podridão.

Carros, ônibus e pessoas passam pela avenida, mas ninguém as nota. Já fazem parte da paisagem. Já é natural.


Terminal Barra Funda.

 Atrás de um arbusto, um morador de rua penteia seus cabelos, enquanto funcionários da prefeitura  aparam o gramado do que poderia ser considerado o seu jardim. O vai e vem das pessoas apressadas não permite a percepção deste ato que, apesar de banal, é carregado de significado. Sua condição não o impede de manter o respeito por si mesmo.  Sua natureza humana ainda persiste. Ele está na rua, mas não pertence a ela.

O que leva uma pessoa a chegar ao ponto de perder sua privacidade e sua liberdade? O vício, a dor, a miséria. Embora pareça um homem livre, ele talvez seja um prisioneiro de suas escolhas. Não tem nome, endereço, mas ainda tem sua identidade.

O feio, o sujo e o desumano são tão corriqueiros, que já fazem parte do espírito da cidade. Nada mais nos espanta ou comove.

Carros, ônibus e pessoas passam pelo Terminal, mas ninguém o nota. Já faz parte da paisagem. Já é natural.

O animal e o homem na mesma condição. Invisíveis aos olhos insensíveis da urbe.