quarta-feira, 28 de março de 2012

Um presente de cozinha



Enquanto tomo café e me preparo para ir à academia, assisto ao Programa da Ana Maria Braga onde um quadro interessante se inicia. Neste quadro um homem pede para que o programa reforme a cozinha de sua casa, para presentear sua esposa na comemoração dos 25 anos de casamento. 

O que? Uma reforma na cozinha como presente de bodas de prata?! Tá certo que fica muito mais fácil cozinhar aquele arroz com feijão olhando para um azulejo novo e limpo. Mas daí a acreditar que isso é presente de casamento é um ultraje.

Um jantar romântico, uma viagem, um cineminha a dois, uma fugidinha para o Motel: isso sim é presente. Um momento de prazer e lazer para fortalecer a união, esquecer as agruras da convivência cotidiana. Mulher gosta de romantismo. Não importa se foram 5, 10, 20 ou 60 anos de casados.

A coroação no final do quadro foi quando a moça presenteada (moça sim porque ela casou nos anos 80) vestiu o avental com o nome do programa estampado. Sua expressão de alegria não me parecia muito real. Na minha imaginação, o pensamento dela dizia: “Reformar a cozinha não é presente, é sua obrigação. Eu preferia ganhar a viagem que um casal ganhou outro dia do programa”. 

E o pior. Todos cumprimentavam o marido como se ele fosse um herói. Um homem sensível e capaz de perceber as reais necessidades de sua esposa. Reais?!

Depois que uma dona de casa descamba pelo mundo ou comete o suicídio vão ainda dizer: “Ah! Coitado do marido... um homem tão bom e dedicado”.

segunda-feira, 19 de março de 2012

O novo




Sábado, 17 de Março de 2012 

E o outono anuncia sua chegada. Dia nublado, vento frio, fina garoa. Moletom, meias, edredom, chá. Ele ainda nem acabou e já sinto saudades dele: o verão.

A mudança das estações é algo natural e que temos que aceitar. Embora não goste muito, tenho que me adaptar a nova estação. Na vida também é assim. As mudanças são naturais e inevitáveis. Sinto que o outono se aproxima, não só pelo arrepio causado pelo vento, pelas janelas fechadas ao entardecer, mas sinto o outono se aproximar na minha vida também.

 O outono é uma oportunidade da natureza para chegarmos ao inverno de maneira gradual. Mas só de pensar que tenho que enfrentar o inverno em breve, fico desejando pular as estações e chegar logo à primavera. Mas isso é impossível e antinatural.

As plantas e os animais vivem seus ciclos. Nós também. 

Sentir o coração mais acelerado pode ser um sinal do corpo tentando se aquecer, mas também pode ser um sinal de que uma grande e irremediável mudança está porvir.

O outono anuncia: “O inverno logo vem... aproveite a oportunidade para se preparar. Se esconder embaixo do edredom não vai evitar sua chegada”.

Então é isso. Vou levantar do sofá, esquecer o chocolate, abrir a janela e enfrentar o outono. E que venham as mudanças. E que venha o inverno.

domingo, 18 de março de 2012

O obelisco baiano



Carlos “Pomba” trabalha como representante de vendas de uma indústria de cosméticos. Isso lhe rende algumas viagens pelo Brasil e a oportunidade de conhecer muita gente. Em uma de suas viagens de trabalho à Salvador, aproveitou a noite agradável para passear pelos bares da Ladeira de São Miguel, no Pelourinho.

Sentou-se à mesa na calçada, pediu uma cerveja e ficou apreciando o movimento. Quando se preparava para pedir a conta, surgiu na ladeira uma morena com um vestidinho verde que chamou a atenção de todos. Até as mulheres viraram a cabeça para vê-la passar. 

A morena viu “Pomba” sentado sozinho, com sua camisa branca de linho e seu chapéu panamá. Ela parou, voltou até sua mesa e perguntou: 

-Posso sentar com você meu rei?

-Lógico minha rainha!

Ela puxou uma cadeira e sentou-se de frente para ele. Seu perfume invadiu as narinas de “Pomba” e causou um leve arrepio.

 - Que perfume é esse rainha? 

- É Alfazema meu rei.

-Este teu vestidinho verde é um arraso, hein?!

-Ah, meu rei! Você não viu nada ainda. Embaixo deste vestido tem um monumento espetacular!

-Nossa! Quando posso conhecer este ponto turístico baiano?

-Posso te mostrar um pedacinho agora....estou sem calcinha.

A imaginação de “Pomba” foi tão longe que ele se lembrou de Sharon Stone no filme “Instinto Selvagem”. Ele afastou sua cadeira até um ponto onde pudesse ver melhor, a morena sorriu e lentamente descruzou as pernas. Mas, não tão lentamente assim, algo roliço pulou generosamente para frente como se quisesse dizer “olá”.

“Pomba” sentiu seu coração disparar, as gotículas de suor brotar em sua testa e a respiração parar. Esta sensação durou poucos segundos, que pareceram eternos. Ele sorriu, secou o suor da testa com um guardanapo de papel, levantou-se e estendeu a mão como se convidasse a morena para dançar. Quando ela fez um gesto de quem aceita o convite, “Pomba” disparou ladeira abaixo como quem corre do próprio diabo. Na corrida perdeu um pé do seu sapato bicolor e só parou 15 minutos depois, quando a lembrança o fez vomitar em um beco.

Limpou a boca na gola de sua camisa e pensou alto: “Odeio Alfazema!”