sexta-feira, 25 de maio de 2012

As asas


            Um avião bicolor cruza o céu azul, brigadeiro típico de uma tarde de Outono. Olho para o alto e me pergunto: o que eu estou fazendo aqui?

            Desejo tanto a paz da minha casa. O silêncio dos cômodos vazios, a sinfonia vinda do trânsito na marginal, o papagaio que chama "vó" ao longe. A buzina de uma moto, algum móvel estralando, o canto de algum pássaro. O miado de um gato, as patinhas do cachorro descendo as ascadas, a máquina de lavar roupas. A caneta no papel.

            Tenho a impressão de que sou uma borboleta que se arrasta no corpo de uma lagarta. Vez ou outra me recolho em meu casulo na esperança de me transformar e sair voando de lá. As asas até se desdobram, se soltam mas, o corpo anelado de lagarta é muito pesado e me prende ao chão.

             Até quando?

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O Mar e a Chuva



Ponta da praia. Só o som das ondas batendo nas pedras.

Tesouros trazidos pelo mar: conchas, cascalho, algas e o maior tesouro de todos – o silêncio.

O relativo silêncio do mar. Sem vozes, sem buzinas, sem música. Só o som da maré em seu movimento sensual. A língua branca lambe a areia depois retorna para dentro da boca azul. Um beijo molhado, rápido e ruidoso.

O silêncio e a introspecção são uma necessidade. Infelizmente muitas pessoas interpretam meu silêncio de maneira equivocada. Pensam que estou triste, desanimada ou desaprovando algo. 

Meu silêncio é meu refúgio. Uma ilha só minha onde construo as minhas histórias e vivo em paz. Um mundo íntimo, calmo e só meu! Maravilhosamente meu.

Ouvir a chuva também evoca o silêncio das palavras. O cheiro do ozônio que anuncia a chuva que se aproxima, o som das gotas no telhado, na calha e no solo convidam a entrar para nossa cabaninha interna e a ficar lá, quieto.

Silenciar.

Não sou a pessoa mais equilibrada do mundo, mas tenho certeza que estes minutos, horas, ou dias de silêncio me ajudam a digerir o que foi engolido, absorver o que é bom e regurgitar o que me causa mal.

Portanto eu lhe peço. Respeite e aceite o meu silêncio. Não pense que é algo pessoal. Ou melhor. Tenha certeza que é algo pessoal. Íntimo e pessoal.