terça-feira, 27 de setembro de 2011

 A busca pela felicidade termina quando paramos de lutar contra nossos instintos e aceitamos que eles fazem parte da nossa essência humana.
Algumas pessoas pensam que podem controlar suas vidas. Tolas! Se decepcionam ao perceberem que a única coisa que podem controlar é sua própria morte.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Sanhaços


Como pode alguém achar bonito passarinho preso em gaiola? Que vida triste e solitária. Cantar sem motivo e muitas vezes com uma mutilação nas asas.
Tenho recebido a maravilhosa visita de um casal de sanhaços. Ave de cor azulada e canto empolgante. O alvo desta encantadora  criatura é o meu varal de nylon que está desfiando. Um deles, cuidadosamente arranca alguns fios para compor o seu ninho. Que criativo!
Com isso, acabei conhecendo sua dieta pois, toda vez que pousa no varal, deixa um rastro do que comeu. Primeiro foram as manchas roxas que denunciavam as amoras já digeridas. Depois foram as pequenas sementes de pitangas envoltas numa gota alaranjada.
Certa vez, observei um bem-te-vi que reformava seu ninho, usando apenas rabiolas de pipas que ficaram presas nos fios de eletricidade. Um ninho forte e impermeável.
Isso mostra o quanto as aves estão se adaptando à viver nas grandes cidades. Hoje é comum observar aves que antes só eram vistas em áreas afastadas e não urbanizadas.
Onde trabalho, existe uma pequena área verde que atrai sanhaços, sabiás, gaviões, maritacas e até pica-paus. É uma escola localizada bem próxima à marginal tiête, entre ruas e avenidas por onde circulam ônibus, caminhões, carros e lotações.
Quem mora em São Paulo atualmente, tem a oportunidade de conviver com várias espécies de aves.
Para ouvir o canto melodioso do sabiá, um dos mais lindos em minha opinião, não é preciso cortar suas asas e trancá-lo em uma cela. Basta afinar os ouvidos e ter um olhar mais sensível ao que se passa a nossa volta.


Em Tempo: O varal foi trocado mas, para minha felicidade, o sanhaço voltou e trouxe outro pássaro menor (não identifiquei). Agora eles roubam a palha da palmeira do meu jardim.



quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Delícia?



Quando falo para alguém que sou professora de educação infantil, geralmente ouço: “Nossa, que gostoso! Cuidar dos pequeninos.” Quem diz isso não imagina a loucura que é a rotina de uma sala com 35 alunos, com idade entre 4 e 5 anos.
A responsabilidade é enorme! Se acontece qualquer coisa (ás vezes um ralado ou um hematoma), boa parte dos pais caem matando a pau! Penso que eles esqueceram que um dia foram crianças também e já se machucaram brincando ou brigando.
Episódios bizarros também são frequentes. Certa vez um aluno me estendeu a mão e disse: “Olha o que eu achei na minha cueca!”  Era um verme de mais ou menos 10 centímetros que ainda se movia. A mãe do garoto não me avisou que ele estava tomando vermífugo e que isso poderia acontecer. E aconteceu no meu primeiro ano trabalhando em uma escola pública.
Mesmo depois de 12 anos de trabalho em escola pública, ainda me surpreendo com certas coisas. Outro dia contei em casa o que tinha acontecido na escola e quem ouviu se divertiu muito. Um aluno de inclusão (aluno com necessidades educativas especiais), que apresentava dificuldades de comunicação, teve uma diarreia. A primeira vez que ele sujou a roupa, só percebi por causa do cheiro. Sua roupa foi trocada. Aconteceu pela segunda vez. Trocaram sua roupa novamente e desta vez ele ficou só de bermuda e sem cueca, pois não havia mais troca de roupa.
Mesmo sabendo que ele não estava segurando nem peido, mandaram o garoto de volta para sala. Não deu outra! Faltando 5 minutos para abrir o portão e os pais entrarem para retirar seus filhos, ele fez de novo e, como estava sem cueca e de bermuda, aquilo escorreu pelas pernas até cair no chão. Enquanto eu procurava alguém para limpar a sala e trocar o garoto, um aluno desavisado pisou na meleca. Que dia perfeito! Um garoto todo cagado, uma sala perfumada, os alunos passando mal e eu desesperada porque não achava ninguém para me ajudar. E pior! Sabia que em segundos os pais iriam entrar e encontrar um verdadeiro armageddom.
E aí? Você ainda diz: “Que delícia trabalhar com os pequeninos?!”

sábado, 3 de setembro de 2011

Os gatos da minha vida

 Foto: Paulo Marques
 O olhar mais apaixonado e amável que eu já recebi em minha vida, não foi de um homem ou de uma criança, mas de um felino. Tévez era um dos cinco gatinhos que eu encontrei jogados em uma praça onde passei enquanto fazia uma caminhada. Quando ouvi os miados imaginei que fossem no máximo dois que estavam dentro de uma caixa. Mas, talvez por maldade de algum transeunte, os outros estavam espalhados pela praça. Dois policiais que passavam pelo local me ajudaram a recolhê-los e caridosamente me levaram em casa no banco de trás da viatura.
Quando cheguei em minha casa, percebi que eram quatro machos pretos bem peludinhos e uma fêmea siamesa. Eles não tinham nem 1 mês de vida. Todos estavam bem, miando e andando dentro da caixa. Exceto um que estava com os olhos fechados e grudados. Respirava com muita dificuldade, pois suas narinas estavam cheias de uma mistura de terra e sangue. Como já era noite, resolvi levá-lo ao veterinário de plantão mais próximo, para examiná-lo melhor.
Na clínica, o veterinário me cobrou 50,00 reais para dizer que o gatinho estava com o nariz fraturado e que não iria sobreviver.
Mas eu não desisti dele. Limpei suas narinas com água oxigenada e comecei a medicá-lo com antibióticos. Fazia uma papinha de ração dissolvida em água morna para poder alimentá-lo.
Em 2 dias, o gatinho que antes dormia em cima das próprias fezes, já me recebia na porta (ainda de olhos fechados) quando eu chegava para alimentar ele e seus irmãos.
A inflamação aos poucos foi cedendo e os olhos dele foram se abrindo. Meu pai, corintiano roxo, apelidou o pequeno gato feio de boca aberta de Tévez. Uma referência ao jogador Carlitos Tevez que atuava no Corinthians naquela época
Resolvi dar um banho na ninhada para que pudesse arrumar um novo lar para todos. Tevez era o mais feio no banho. Seus pelos molhados revelaram um gatinho esquelético e cabeçudo.
Mesmo com os olhos ainda meio fechados, suas orelhinhas  demonstravam  prestar atenção quando eu falava com ele, enquanto sua boca entreaberta fazia um chiado que misturava a entrada do ar com a saliva parada na boca.
Foi amor à primeira vista! Ou melhor, ao primeiro cuidado.
O gatinho feio cresceu, seus irmãos foram adotados, mas ele ficou.
Tornou-se um gato forte, bonito com pelo sedoso e muito, mas muito manhoso. Eu dizia que ele era o único gato que não miava. Ele chorava. E todas as vezes que ele me via era a mesma coisa. Aquele olhar de amor que parecia me dizer obrigado por salvar minha vida! Eu te amo!
Os seus dentes demoraram a crescer por causa das fraturas e também da comida molinha que oferecia pouca resistência à sua gengiva. Quando introduzi a ração dura à sua alimentação, aconteceu um fenômeno incrível. Nasceram duas presas superiores de cada lado (a de leite e a permanente nasceram ao mesmo tempo). O único gato que eu vi que tinha quatro presas.
Mas logo os dentes de leite caíram e ele voltou ao normal.
Numa manhã de feriado de aniversário de São Paulo, recebi a notícia triste.  Meu pai encontrou Tévez agonizando em frente à casa de um vizinho. Ele havia sido envenenado. Às vezes prefiro acreditar que por sua imprudência ele tenha sido atropelado, do que acreditar que sua docilidade o tenha matado. Ele se deixava cariciar por qualquer um e talvez, algum imbecíl tenha se aproveitado disso para lhe oferecer um petisco do mal.
Eu ainda choro ao me lembrar daquele que foi o olhar mais doce de toda a minha vida.