sábado, 3 de setembro de 2011

Os gatos da minha vida

 Foto: Paulo Marques
 O olhar mais apaixonado e amável que eu já recebi em minha vida, não foi de um homem ou de uma criança, mas de um felino. Tévez era um dos cinco gatinhos que eu encontrei jogados em uma praça onde passei enquanto fazia uma caminhada. Quando ouvi os miados imaginei que fossem no máximo dois que estavam dentro de uma caixa. Mas, talvez por maldade de algum transeunte, os outros estavam espalhados pela praça. Dois policiais que passavam pelo local me ajudaram a recolhê-los e caridosamente me levaram em casa no banco de trás da viatura.
Quando cheguei em minha casa, percebi que eram quatro machos pretos bem peludinhos e uma fêmea siamesa. Eles não tinham nem 1 mês de vida. Todos estavam bem, miando e andando dentro da caixa. Exceto um que estava com os olhos fechados e grudados. Respirava com muita dificuldade, pois suas narinas estavam cheias de uma mistura de terra e sangue. Como já era noite, resolvi levá-lo ao veterinário de plantão mais próximo, para examiná-lo melhor.
Na clínica, o veterinário me cobrou 50,00 reais para dizer que o gatinho estava com o nariz fraturado e que não iria sobreviver.
Mas eu não desisti dele. Limpei suas narinas com água oxigenada e comecei a medicá-lo com antibióticos. Fazia uma papinha de ração dissolvida em água morna para poder alimentá-lo.
Em 2 dias, o gatinho que antes dormia em cima das próprias fezes, já me recebia na porta (ainda de olhos fechados) quando eu chegava para alimentar ele e seus irmãos.
A inflamação aos poucos foi cedendo e os olhos dele foram se abrindo. Meu pai, corintiano roxo, apelidou o pequeno gato feio de boca aberta de Tévez. Uma referência ao jogador Carlitos Tevez que atuava no Corinthians naquela época
Resolvi dar um banho na ninhada para que pudesse arrumar um novo lar para todos. Tevez era o mais feio no banho. Seus pelos molhados revelaram um gatinho esquelético e cabeçudo.
Mesmo com os olhos ainda meio fechados, suas orelhinhas  demonstravam  prestar atenção quando eu falava com ele, enquanto sua boca entreaberta fazia um chiado que misturava a entrada do ar com a saliva parada na boca.
Foi amor à primeira vista! Ou melhor, ao primeiro cuidado.
O gatinho feio cresceu, seus irmãos foram adotados, mas ele ficou.
Tornou-se um gato forte, bonito com pelo sedoso e muito, mas muito manhoso. Eu dizia que ele era o único gato que não miava. Ele chorava. E todas as vezes que ele me via era a mesma coisa. Aquele olhar de amor que parecia me dizer obrigado por salvar minha vida! Eu te amo!
Os seus dentes demoraram a crescer por causa das fraturas e também da comida molinha que oferecia pouca resistência à sua gengiva. Quando introduzi a ração dura à sua alimentação, aconteceu um fenômeno incrível. Nasceram duas presas superiores de cada lado (a de leite e a permanente nasceram ao mesmo tempo). O único gato que eu vi que tinha quatro presas.
Mas logo os dentes de leite caíram e ele voltou ao normal.
Numa manhã de feriado de aniversário de São Paulo, recebi a notícia triste.  Meu pai encontrou Tévez agonizando em frente à casa de um vizinho. Ele havia sido envenenado. Às vezes prefiro acreditar que por sua imprudência ele tenha sido atropelado, do que acreditar que sua docilidade o tenha matado. Ele se deixava cariciar por qualquer um e talvez, algum imbecíl tenha se aproveitado disso para lhe oferecer um petisco do mal.
Eu ainda choro ao me lembrar daquele que foi o olhar mais doce de toda a minha vida.

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