quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Última mente

Ultimamente
a mente
vagueia
vaga e mente
a razão é dormente
e o corpo desmente
esta condição.

Seria o cansaço
a semente
desta situação?
Ou seria a desilusão
que fatalmente
revela uma agressão:
admitir pacificamente
o que está errado
e ser punido injustamente
pela incompetência e descaso alheios.

Ultimamente
a mente
vagueia
vaga e mente
a razão é dor e mente
esta condição.

Ultimamente
a mente
adoece
cordialmente
se esquece,
desfalece.
                                                              

domingo, 21 de agosto de 2011

Maria Fumaça


A história da ferrovia São Paulo Railway (Ferrovia Santos/Jundiaí) se confunde com a história da minha família. Primeiro foram os imigrantes que desembarcavam em santos e embarcavam na Maria fumaça rumo ao interior de São Paulo. Entre eles meu bisavô que vinha da Itália. Depois, na cidade de Jundiaí, onde a Ferrovia terminava, encontramos boa parte dos homens da família de minha mãe trabalhando na ferrovia. Visitando o museu do imigrante no Brás e a vila de Paranapiacaba em Santo André, uma triste constatação. Nossa história está abandonada e só não desapareceu totalmente graças ao trabalho de voluntários que mantém, museus, vagões e memórias arrecadando dinheiro com a passagem dos passeios de Maria fumaça e com a venda de souvenir da ferrovia.



sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Eu vivia numa caixa

Eu vivia numa caixa
Onde me encolhia pra me acomodar
Havia pequenos buracos
Por onde eu podia espiar, respirar

Quando pensei que já estava acostumada
Senti vontade de me esticar
Eu bati, mas ninguém abriu a tampa
Diziam que sair de lá era burrice, besteira
Diziam que meu lugar era lá dentro encolhida e quieta

Um dia descobri que a tal caixa era de papel
Papel mais frágil do que eu
Cansada de ficar encolhida, bati de novo
E de novo, e de novo
Já sentindo as dores do encolhimento
Me estiquei, rasguei, cortei, mordi o papel que me prendia
Saí

E ainda hoje continuo me esticando e rasgando caixas
Caixas maiores, mas que ainda me prendem
Embalagens e etiquetas que não me agradam mais
Laços de presente que não me enfeitam
Enfeiam

Vou continuar me esticando, rasgando e cortando
Até o dia que não conseguir mais
E quando este dia chegar
Farei aquilo que me restar....
....Voar

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O fim da infância


O maior vestígio do fim da infância são os diversos e-mails que recebo trazendo as lembranças dos brinquedos, brincadeiras e personagens que fizeram parte da infância da minha geração.   “A infância se tornou um objeto de nostalgia e contemplação”.* Antigamente, (na minha infância) os brinquedos eram brinquedos mesmo (carrinhos, bonecas, bolas). Hoje os brinquedos são miniaturas do mundo adulto (maquiagem, roupas). Principalmente no caso das meninas que atualmente festejam seus aniversários em salões de beleza.

O fim da inocência também é marcado por uma carga de propaganda voltada às crianças, como se elas fossem as verdadeiras consumidoras, pessoas economicamente ativas e capazes de decidir o que comprar. Os pais se tornaram escravos de pequenos consumidores (consumistas!) que pedem e ganham presentes fora de qualquer data  comercial/comemorativa.

A propaganda voltada à criança é um absurdo em minha opinião. Em alguns países (Noruega e Suécia) ela é proibida. Como alguém na mais tenra idade, pode decidir o que comprar se ela não tem recursos próprios e também não tem discernimento de perceber que nem tudo o que a propaganda mostra é real?  O mais grave é quando uma propaganda além de tentar convencer os compradores, também transmite a filosofia deste ou daquele grupo. É obvio que isso não fica claro para o telespectador distraído. Outro dia vi em um canal de programação exclusivamente infantil, a propaganda de uma pia de lavar louças de brinquedo, onde algumas meninas brincavam (somente meninas) de lavar a louça. O texto dizia: “é igualzinha a da MAMÃE, só que MAIS divertida”. Mulheres! Se vocês não acham lavar louça divertido é porque algo está errado. Errado com vocês e não com a propaganda não é?! Pois afinal a pia é da MAMÃE!

Basta alguns minutos de atenção às entrelinhas dos textos e imagens das propagandas, e ficaremos boquiabertos com a quantidade de mensagens machistas, burguesas, discriminatórias e até criminosas. Hoje acharíamos um grande absurdo ouvir uma propaganda de curativo (band-aid) que dizia: “agora na cor da pele”. OPS! Vem na cor da pele de quem? Da maioria branca? Eu sempre corrijo meus alunos quando eles pegam um lápis salmão ou bege e dizem que é o lápis cor de pele. Parece uma grande bobagem se preocupar com um detalhe destes, mas eu acredito que as pessoas são feitas de detalhes, de pequenas atitudes.

Como me disse certa vez um professor: “é preciso ler nas entrelinhas”. Somos metralhados de mensagens que representam algum ideal o tempo todo, basta prestar um pouco de atenção.







* “O desaparecimento da infância” Neil Postman p.19

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A pulga Catarina



Catarina é uma pulga
Danada e espuleta
Pula pula sem parar
Nas costas do cão perneta


Coitadinho do cãozinho
Que mal pode se coçar
Cata cata a Catarina
Essa pulga é de matar


Mas um dia...aleluia!
O cão perneta saiu da rua
Ganhou casa, comida e banho
Mas esse ainda, não foi o fim da pulga


Coitadinho do cãozinho
Que mal pode se coçar
Cata cata a Catarina
Essa pulga é de matar


Sua dona então pensou:
“O jeito é um remedinho
pra passar no pobrezinho”
E o doutor lhe receitou

Quando a pulga viu o vidro
Não parou para pensar
Pegou sua maletinha
E foi atrás de um novo lar


E o pobre cão perneta
Não precisa mais coçar
Cata cata a Catarina
Foi viver noutro lugar.








                                                                 

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Criancices ou coisas de criança

Criança transforma qualquer coisa em brinquedo.
Eu gostava de brincar com os botões guardados na caixa de costura da minha mãe. Eram muitos. De todas as cores, tamanhos e até formas não circulares. Mas os botões que mais me distraíam, eram os botões do uniforme de gráfico que meu pai usava. Era um conjunto de tecido grosso, azul escuro e cheio de manchas de tinta.
Estes botões eram pequenos, redondos, cinzas ou pretos. As dezenas deles que minha mãe guardava para repor os que eventualmente meu pai perdia, em minhas mãos se transformavam em um exército de soldados e generais.
A própria máquina de costura era um brinquedo cheio de possibilidades. Aquela roda de ferro se transformava no volante de um carro em que o pedal, ou melhor, o assento, se movia como se eu realmente estivesse fazendo curvas com o meu possante.
Na casa da minha avó, explorar as diversas gavetinhas e compartimentos de sua máquina de costura em busca de pequenos tesouros, era o  mais divertido que eu podia fazer em uma casa sem crianças para brincar.
Enquanto escrevia sobre o uniforme do meu pai, me lembrei que uma noite abri a porta da sala, e ele estava lá parado com uma barata viva no ombro. Tomei um susto. Tive a impressão de que ele estava trazendo o inseto para ser nosso bicho de estimação.
Ele trabalhava no turno da tarde e chegava em casa por volta das 23:00 horas. Eu, minha mãe e minha irmã, nos sentávamos na sala acordadas esperando ele chegar. Ele descia as escadas na ponta dos pés para poder nos assustar. Era infalível!
Uma noite resolvemos nos vingar.
Amarramos uma linha em um saco de areia comprido, daqueles que colocamos embaixo da porta para impedir a passagem das baratas, e deixamos no meio do quintal.
Com todas as luzes apagadas, ficamos espiando pelo vitrô da cozinha. Quando ele desceu as escadas e viu aquilo que parecia uma cobra se movendo, pegou uma vassoura e deu nela com toda força. Enquanto batia, ele gritava: “Não sai, não sai!”
A vassoura já estava em pedaços quando ele percebeu a brincadeira. Ele foi o único que não riu, mas nunca mais nos assustou ao chegar em casa.