quinta-feira, 19 de abril de 2012

A ciência da felicidade


 
"Cientistas de Harvard avançam nos estudos que sugerem que a felicidade e o otimismo são tão importantes para a saúde quanto fazer exercícios e se alimentar bem" (Jornal Hoje 18/04/2012). Embora ainda não seja uma comprovação científica, empiricamente já sabíamos disso.

Os doutores da alegria foram os primeiros “cientistas” a concluírem que cada sorriso dentro de um hospital, é uma pílula de saúde que ajuda na recuperação das pessoas internadas. É claro que responsabilizar a pessoa que está doente por não conseguir se manter otimista é uma crueldade.

Acreditar que as coisas nem sempre dão errado e que é possível ter dias melhores, nos ajuda a levantar todas as manhãs e continuar a luta. Não levar as coisas tão a sério pode ser um bom exercício. Diminuir as expectativas para evitar as grandes decepções também. Mas este otimismo deve ser sincero. Fingir ser otimista pode ser um alimento diário a uma bomba relógio que explodirá cedo ou tarde.

Felicidade é algo mais difícil de definir. É um conceito íntimo e pessoal. Algumas pessoas passam a vida numa verdadeira odisseia em busca da tal felicidade. Estabilidade financeira, amor, sucesso, saúde. É certo que não conseguimos manter todas estas conquistas juntas. 

Comecei então a pensar nas coisas cotidianas que me trazem felicidade e me ajudam a manter o otimismo. Um almoço em família regado a vinho. Um beijo na minha filha antes de dormir. Um chopp gelado com uma ou mais amigas. O sorriso de uma pessoa que geralmente está de mau humor. Fazer meu cachorro correr pelo quintal até perder o fôlego. Acariciar os pelos da minha gata. Comer um chocolate no fim de semana. Escrever um texto. Observar borboletas. Comer pizza na sexta. Ler um pouco no sábado. Cochilar na tarde do domingo. São muitas e pequenas coisas que me trazem essa sensação de felicidade.

Conclusão: sou feliz graças a Deus e graças à sutileza das pequenas coisas.

 Felicidade - O Teatro Mágico 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Janela



Dia de chuva na escola é aquele inferno. Sala lotada de crianças agitadas sem poder sair ao parque para extravasar as energias. O barulho é ensurdecedor e causa dores de cabeça.
Eis que olho pela janela e vejo um lindo sabiá se deliciando com um mamão fresquinho partido ao meio e oferecido pelo caseiro da escola.  Ele olha para mim algumas vezes, mas não interrompe sua refeição. A chuva fina faz suas penas reluzirem mais escuras do que em um dia de sol. Uma súbita paz me invade neste dia de verdadeiro caos.
O que seria de nós sem as janelas?
Ele pega um pedacinho de mamão e leva no bico para seu ninho.
Agora é um lindo sanhaço que se aproxima para petiscar o belo fruto alaranjado que contrasta sua cor azulada.
O que seria do mundo sem janelas?
Olhar para fora em busca de um horizonte, em busca da poesia do cotidiano. Fugir da acidez da realidade através do olhar, pela janela.
Janelas, vitrôs, frestas, buracos. Qualquer claridade ou raio de luz que venha de fora.
O que seria do ser humano sem janelas?
Olhar para dentro em busca de equilíbrio. Paz.
Seria isso uma crônica poética ou uma poesia crônica?!
(Março 2012)

domingo, 8 de abril de 2012

Carmim 17



Reconheceu a boca marcada na bituca de cigarro. Era o Carmim 17 que ela tanto adorava. Era capaz de imaginá-la tocando os lábios no papel branco como quem toca os lábios de um amante ardente. “Ela esteve aqui com toda certeza”.

Ainda sentia o seu cheiro, uma mistura de hidratante, perfume floral e nicotina. “Ela esteve aqui e saiu há pouco”. 

A cada passo, se aproximava do interior da casa e percebia o calor do corpo roliço daquela louca. “Ela esteve aqui e talvez ainda esteja”.

Ao entrar no quarto ainda escuro, ouviu sua respiração e percebeu sua pulsação acelerada quando, ao tocar o interruptor, foi agarrado por sua mão forte e cheia de anéis. A luz apenas piscou, mas conseguiu ver seus olhos de fúria e sua face vermelha. “Ela ainda está aqui”.

Um calor líquido inundou sua barriga e escorreu pelas suas pernas. Era a outra mão dela que lhe enfiava com força uma pequena faca de cortar frutas.

Lembrou-se de ter cortado uma maçã ao meio antes de sair de casa. 

Sentiu o cheiro da fruta se misturar ao sangue.

Sentiu o gosto da maça e do carmim 17 pela última vez.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

A cor e o padrão


                                                         

Outro dia vi na TV um especialista em condomínios dizendo que o importante era padronizar as sacadas de um prédio para que o mesmo não se tornasse uma colcha de retalhos. Como assim? O que tem de errado com uma colcha de retalhos? É um dos objetos mais bonitos que eu já vi. O que há de errado em sair do padrão?

O termo “padronização” me assombra. A padronização é o assassinato da criatividade, da personalidade e da individualidade. 

Fachada padrão, carro padrão, funcionário padrão.

Que me desculpem os designers de plantão, mas prefiro o colorido multifacetado de uma bela e colorida colcha de retalhos.

Comportamento padrão, salário padrão, vida padrão.

A “bendita” moda também é uma maneira nefasta de padronizar o comportamento das pessoas. É horrível tentar comprar algo que você gosta e que não está na moda. Nas lojas todos os sapatos são parecidos, as roupas têm a mesma estampa e muitas vezes o mesmo tamanho. Se o seu corpo não é padrão, com certeza encontrará dificuldades em se vestir, mesmo que siga a moda. 

Aliás, acho que a última moda para as mulheres é viver perigosamente. Descobri isso através de um comercial de sapatos. Era o lançamento da coleção outono/inverno e os sapatos tinham saltos tão altos que as modelos andavam em câmera lenta. A moda é ser poderosa e quebrar o pé nas ruas esburacadas de São Paulo. 

Salto padrão, corpo padrão, mediocridade padrão.

Abaixo a padronização e viva a diversidade!