sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Teoria da empatia



      Você já notou que a maioria dos moradores de rua ou catadores de papel são acompanhados por um ou mais fiéis amigos? E você já se perguntou por quê? Eu já. E tenho até uma teoria sobre isso. É a teoria da empatia. 
 

      Algumas pessoas confundem empatia com simpatia. São duas coisas bem diferentes. Segundo o dicionário da Academia Brasileira de Letras, simpatia é a afinidade que se sente com alguém ou algo. E embora o mesmo dicionário coloque empatia como um sinônimo, a definição da palavra demonstra a complexidade do seu significado. Empatia é a identificação afetiva com outra pessoa, que se caracteriza pela capacidade de poder se colocar no lugar do outro e imaginar quais são seus sentimentos e sensações.

     Quem sentiu na pele o desprezo, a fome, a humilhação, sabe exatamente o que sente um cão quando é enxotado ao pedir alimento e abrigo. A relação de um cão e seu amigo vivente na rua é de pura empatia. Os dois viveram e vivem situações que fazem com que se compreendam mutuamente. Isso é a empatia por vivência

       Uma mãe que perdeu um filho consegue facilmente, e até sem desejar, se colocar no lugar de outra mãe que chora ao ver seu filho em risco de vida.

       Minha teoria é que, além da empatia por vivência, existe a empatia por exercício. Se você não viveu determinada situação, pode tentar se colocar no lugar da pessoa que está vivendo. Se imagine sendo ela. Não é a mesma coisa, mas já é possível ter uma noção do que ela está sentindo.

      Um mundo mais humano requer um exercício de empatia. Isso deveria ser ensinado nas escolas como matéria básica. Devo avisar que este exercício nos torna mais sensíveis, mais chorões, mas, acima de tudo, mais humanos.






sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A essência e o Templo


         
         
          Já visitei igrejas católicas, assisti missas e participei de reunião de grupo de jovens. Também assisti à cerimônias evangélicas e festas aos orixás da umbanda. Por fim, passei alguns anos frequentando reuniões em uma casa espírita. Todos têm seus rituais, dogmas e ensinamentos. Mas minha visão de fé é puritana e não aceita rituais. Encaro a maioria deles mais como uma manifestação cultural do que religiosa.

          Minha fé em Deus hoje está tão ligada ao meu interior que não necessito frequentar nenhum templo ou ouvir nenhum sacerdote. Para mim, bastam alguns segundos de silêncio interno, mesmo que eu esteja dentro de um carro no trânsito da marginal Tietê, para sentir a força que me move.

        É claro que alguns lugares nos ajudam a nos conectar com o divino. Um lugar em meio à natureza, cheio de árvores, pássaros e insetos é perfeito para abrir a nossa mente e sentir que a verdadeira fé, o verdadeiro poder reside em nós. 

          Como posso querer que Deus acredite em mim se eu mesma não acreditar. Como posso ser fiel a Ele se não conseguir ser fiel a mim mesma. Pode até parecer blasfêmia ou prepotência, mas o meu culto sou eu, a minha religião sou eu, a minha fé é em mim. Sei que tenho fraquezas, mas elas me ajudam a refletir onde devo melhorar. 

           Não deixo nada nas mãos de Deus, tudo está em minhas mãos.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Sinestesia



Alguns momentos precisam ser gravados na alma. Impossível registrá-los através de uma máquina fotográfica. O cheiro do fogão à lenha ao som de Almir Sater, enquanto uma fina garoa cai na grama. O sabor do frango com polenta salpicado com molhinho de pimenta caseiro.
Se fumasse, acenderia um cigarro de palha para rebater o leve ardor na boca. Um beija-flor se aproxima do bebedouro e enquanto as bolhas sobem a cada gole, as asas batem sem parar e a caneta rola pelo papel.
Criança de cabelos cacheados correndo pelo gramado me faz lembrar que sonhei com ela, quando ainda estava na barriga. No sonho ela era exatamente como agora: cabelos cor de mel harmoniosamente desarrumados.
Agora é deitar na rede na companhia de um livro e balançar levemente. Uma vez, duas vezes, três... Fim.