quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Criancices ou coisas de criança

Criança transforma qualquer coisa em brinquedo.
Eu gostava de brincar com os botões guardados na caixa de costura da minha mãe. Eram muitos. De todas as cores, tamanhos e até formas não circulares. Mas os botões que mais me distraíam, eram os botões do uniforme de gráfico que meu pai usava. Era um conjunto de tecido grosso, azul escuro e cheio de manchas de tinta.
Estes botões eram pequenos, redondos, cinzas ou pretos. As dezenas deles que minha mãe guardava para repor os que eventualmente meu pai perdia, em minhas mãos se transformavam em um exército de soldados e generais.
A própria máquina de costura era um brinquedo cheio de possibilidades. Aquela roda de ferro se transformava no volante de um carro em que o pedal, ou melhor, o assento, se movia como se eu realmente estivesse fazendo curvas com o meu possante.
Na casa da minha avó, explorar as diversas gavetinhas e compartimentos de sua máquina de costura em busca de pequenos tesouros, era o  mais divertido que eu podia fazer em uma casa sem crianças para brincar.
Enquanto escrevia sobre o uniforme do meu pai, me lembrei que uma noite abri a porta da sala, e ele estava lá parado com uma barata viva no ombro. Tomei um susto. Tive a impressão de que ele estava trazendo o inseto para ser nosso bicho de estimação.
Ele trabalhava no turno da tarde e chegava em casa por volta das 23:00 horas. Eu, minha mãe e minha irmã, nos sentávamos na sala acordadas esperando ele chegar. Ele descia as escadas na ponta dos pés para poder nos assustar. Era infalível!
Uma noite resolvemos nos vingar.
Amarramos uma linha em um saco de areia comprido, daqueles que colocamos embaixo da porta para impedir a passagem das baratas, e deixamos no meio do quintal.
Com todas as luzes apagadas, ficamos espiando pelo vitrô da cozinha. Quando ele desceu as escadas e viu aquilo que parecia uma cobra se movendo, pegou uma vassoura e deu nela com toda força. Enquanto batia, ele gritava: “Não sai, não sai!”
A vassoura já estava em pedaços quando ele percebeu a brincadeira. Ele foi o único que não riu, mas nunca mais nos assustou ao chegar em casa.

Um comentário:

  1. Eu amo ver as crianças brincando. Como uma máquina fotográfica velha e um mini game quebrado fizeram sucesso!

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