quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O fim da infância


O maior vestígio do fim da infância são os diversos e-mails que recebo trazendo as lembranças dos brinquedos, brincadeiras e personagens que fizeram parte da infância da minha geração.   “A infância se tornou um objeto de nostalgia e contemplação”.* Antigamente, (na minha infância) os brinquedos eram brinquedos mesmo (carrinhos, bonecas, bolas). Hoje os brinquedos são miniaturas do mundo adulto (maquiagem, roupas). Principalmente no caso das meninas que atualmente festejam seus aniversários em salões de beleza.

O fim da inocência também é marcado por uma carga de propaganda voltada às crianças, como se elas fossem as verdadeiras consumidoras, pessoas economicamente ativas e capazes de decidir o que comprar. Os pais se tornaram escravos de pequenos consumidores (consumistas!) que pedem e ganham presentes fora de qualquer data  comercial/comemorativa.

A propaganda voltada à criança é um absurdo em minha opinião. Em alguns países (Noruega e Suécia) ela é proibida. Como alguém na mais tenra idade, pode decidir o que comprar se ela não tem recursos próprios e também não tem discernimento de perceber que nem tudo o que a propaganda mostra é real?  O mais grave é quando uma propaganda além de tentar convencer os compradores, também transmite a filosofia deste ou daquele grupo. É obvio que isso não fica claro para o telespectador distraído. Outro dia vi em um canal de programação exclusivamente infantil, a propaganda de uma pia de lavar louças de brinquedo, onde algumas meninas brincavam (somente meninas) de lavar a louça. O texto dizia: “é igualzinha a da MAMÃE, só que MAIS divertida”. Mulheres! Se vocês não acham lavar louça divertido é porque algo está errado. Errado com vocês e não com a propaganda não é?! Pois afinal a pia é da MAMÃE!

Basta alguns minutos de atenção às entrelinhas dos textos e imagens das propagandas, e ficaremos boquiabertos com a quantidade de mensagens machistas, burguesas, discriminatórias e até criminosas. Hoje acharíamos um grande absurdo ouvir uma propaganda de curativo (band-aid) que dizia: “agora na cor da pele”. OPS! Vem na cor da pele de quem? Da maioria branca? Eu sempre corrijo meus alunos quando eles pegam um lápis salmão ou bege e dizem que é o lápis cor de pele. Parece uma grande bobagem se preocupar com um detalhe destes, mas eu acredito que as pessoas são feitas de detalhes, de pequenas atitudes.

Como me disse certa vez um professor: “é preciso ler nas entrelinhas”. Somos metralhados de mensagens que representam algum ideal o tempo todo, basta prestar um pouco de atenção.







* “O desaparecimento da infância” Neil Postman p.19

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