Avenida Edgar
Faccó.
8 da manhã. Ela
revolve as penas brancas com o bico, enquanto se aquece ao sol de inverno. Sua
tranquilidade matinal, contrasta com o trânsito contínuo da avenida. Sua casa
são as vigas de concreto, no braço fétido do rio Tietê.
Não é apenas uma, mas duas. Talvez um casal.
Sua natureza
foi deixada de lado. Acostumou-se a enfiar os pés no lodo e sujar as penas no
esgoto. Parece tão natural viver assim, mas não é.
Nós também não
fomos criados para viver no esgoto e nos acostumar com o ar pesado, cheio de
enxofre e chumbo como se fosse natural.
Vivendo em
grandes cidades, com o stress da violência, da poluição e da ignorância,
acabamos nos tornando garças também. Garças do esgoto, com as penas encharcadas
e sujas, incapazes de voar. De tanto enfiar os pés no lodo, esquecemos para que
servem as asas. O bico revolve as penas, mas não nos livra da podridão.
Carros, ônibus
e pessoas passam pela avenida, mas ninguém as nota. Já fazem parte da paisagem.
Já é natural.
Terminal Barra Funda.
Atrás de um arbusto, um morador de rua penteia
seus cabelos, enquanto funcionários da prefeitura aparam o gramado do que poderia ser
considerado o seu jardim. O vai e vem das pessoas apressadas não permite a
percepção deste ato que, apesar de banal, é carregado de significado. Sua
condição não o impede de manter o respeito por si mesmo. Sua natureza humana ainda persiste. Ele está
na rua, mas não pertence a ela.
O que leva uma
pessoa a chegar ao ponto de perder sua privacidade e sua liberdade? O vício, a
dor, a miséria. Embora pareça um homem livre, ele talvez seja um prisioneiro de
suas escolhas. Não tem nome, endereço, mas ainda tem sua identidade.
O feio, o sujo
e o desumano são tão corriqueiros, que já fazem parte do espírito da cidade.
Nada mais nos espanta ou comove.
Carros, ônibus
e pessoas passam pelo Terminal, mas ninguém o nota. Já faz parte da paisagem.
Já é natural.
O animal e o
homem na mesma condição. Invisíveis aos olhos insensíveis da urbe.
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