terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Urbanos





Avenida Edgar Faccó.

8 da manhã. Ela revolve as penas brancas com o bico, enquanto se aquece ao sol de inverno. Sua tranquilidade matinal, contrasta com o trânsito contínuo da avenida. Sua casa são as vigas de concreto, no braço fétido do rio Tietê. 

 Não é apenas uma, mas duas. Talvez um casal. 

Sua natureza foi deixada de lado. Acostumou-se a enfiar os pés no lodo e sujar as penas no esgoto. Parece tão natural viver assim, mas não é.

Nós também não fomos criados para viver no esgoto e nos acostumar com o ar pesado, cheio de enxofre e chumbo como se fosse natural.

Vivendo em grandes cidades, com o stress da violência, da poluição e da ignorância, acabamos nos tornando garças também. Garças do esgoto, com as penas encharcadas e sujas, incapazes de voar. De tanto enfiar os pés no lodo, esquecemos para que servem as asas. O bico revolve as penas, mas não nos livra da podridão.

Carros, ônibus e pessoas passam pela avenida, mas ninguém as nota. Já fazem parte da paisagem. Já é natural.


Terminal Barra Funda.

 Atrás de um arbusto, um morador de rua penteia seus cabelos, enquanto funcionários da prefeitura  aparam o gramado do que poderia ser considerado o seu jardim. O vai e vem das pessoas apressadas não permite a percepção deste ato que, apesar de banal, é carregado de significado. Sua condição não o impede de manter o respeito por si mesmo.  Sua natureza humana ainda persiste. Ele está na rua, mas não pertence a ela.

O que leva uma pessoa a chegar ao ponto de perder sua privacidade e sua liberdade? O vício, a dor, a miséria. Embora pareça um homem livre, ele talvez seja um prisioneiro de suas escolhas. Não tem nome, endereço, mas ainda tem sua identidade.

O feio, o sujo e o desumano são tão corriqueiros, que já fazem parte do espírito da cidade. Nada mais nos espanta ou comove.

Carros, ônibus e pessoas passam pelo Terminal, mas ninguém o nota. Já faz parte da paisagem. Já é natural.

O animal e o homem na mesma condição. Invisíveis aos olhos insensíveis da urbe.



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