quinta-feira, 13 de abril de 2017

Uma goteira


Conserte a goteira.

Uma goteira não incomoda enquanto não está chovendo. Mas isso não significa que ela não esteja lá. Ela pode existir durante anos sem que nos perturbe ao ponto de nos animar em consertá-la.

Podemos colocar um balde a cada chuva e esvaziá-lo toda vez que ele transbordar em um ato mecânico e repetitivo que passa a fazer parte da nossa rotina. Chegamos ao ponto de pensar que nos livrar da goteira seria perder um pedaço da nossa vida. Acostumamo-nos com as gotas batucando ao fundo do balde: “tá... tá... tá” e com o barulho ritmado e hipnotizante das gotas mergulhando na água e a sua diferente sonoridade a cada centímetro. Somos capazes de prever o momento em que o vazamento se aproxima usando somente a audição.

Mas, aquilo que parecia uma inofensiva goteira, um dia se revela uma infiltração corrosiva e bolorenta. Seria este um sinal de que agora é a hora de arregaçar as mangas e acabar com este suplício? Não. É mais simples manter os olhos ao chão para não ver as terríveis manchas no teto e continuar esvaziando o balde toda vez que ele derramar.

Quando ignoramos todos os sinais o final é previsível. Um dia o teto cede e cai apodrecido pelos longos períodos de chuva.

Conserte a goteira.

Não espere que pequenas e irritantes coisas do nosso cotidiano se tornem parte importante da nossa vida. Uma simples goteira hoje pode ser um crânio rachado amanhã.

Conserte a goteira.

É trabalhoso, difícil, chato e dispendioso, mas necessário ao bom andamento da nossa casa. Pegue a escada, suba ao telhado e se suje em uma tarefa cansativa e que ninguém verá o resultado.

Conserte a goteira.


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