sábado, 16 de maio de 2015

OSSOS

    

    A dor tem sido minha companheira há muito tempo. Mas agora é diferente. Ela me assusta. Não posso dormir, não quero dormir.

     Se eu dormir ela virá me assombrar e me atingir como um raio, e eu vou gritar enquanto a eletricidade percorre o meu corpo. Tenho medo de dormir.

    A dor me tira a confiança em meus próprios passos. Passos vacilantes e incertos. Como uma idosa, me apoio no que estiver por perto: cadeira, sofá, esperança, mesa, pessoas, gabinete, coragem, estante, sonhos.

    Não, meus ossos não são de vidro e minha vontade não é liquida. Embora muitas vezes tenho a impressão de que vou partir ao meio e me estilhaçar em mil pedaços no chão.

    Não, meus ossos não são de vidro e meus sonhos não são fumaça. 

    Conto os dias, conto os comprimidos, conto as horas, conto os espasmos.

   Não, meus ossos não são de vidro e minha fé não é de açúcar.

    A noite com sua mão fria e dissimulada, me acena e arranca de um só puxão a minha espinha dorsal. É esta a sensação. Primeiro o grito, depois o ar me escapa do peito.

    Não, meus ossos não são de vidro e minha coragem não é bolha de sabão.

    Isso tudo vai passar e de certo vou me alegrar ao recordar destes momentos dolorosos. Mas enquanto a cura não chega, me contento com o alívio temporário e ilusório das substâncias químicas e seus incipientes.

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